Uma carta a um camarada de Kiev.[1]
Caro camarada:
Você reclama que não foi capaz de ler nem mesmo um décimo
dos livros que lhe interessam e pergunta como distribuir racionalmente seu
tempo. Esta é uma pergunta muito difícil, porque a longo prazo cada pessoa deve
tomar essa decisão de acordo com suas necessidades e interesses particulares.
Deve-se dizer, entretanto, que o quanto uma pessoa é capaz de acompanhar a
literatura atual, seja ela científica, política ou outra, depende não apenas da
distribuição criteriosa de seu tempo, mas também da formação prévia do
indivíduo.
Em relação à sua referência específica à “juventude
partidária”, só posso aconselhá-los a não se apressar, não exagerar, não pular
de um assunto para outro e não passar para um segundo livro até que o primeiro
tenha sido corretamente lido, refletido e dominado. Lembro-me de que, quando pertencia
à categoria de “jovens”, também sentia que simplesmente não havia tempo
suficiente. Mesmo na prisão, quando eu não fazia nada além de ler, parecia que
não se conseguia fazer o suficiente em um dia. Na esfera ideológica, assim como
na econômica, a fase da acumulação primitiva é a mais difícil e problemática. E
somente depois que certos elementos básicos de conhecimento e, particularmente,
elementos de habilidade teórica (método) foram precisamente dominados e se
tornaram, por assim dizer, parte da carne e do sangue de uma atividade
intelectual, é que se torna mais fácil acompanhar a literatura não apenas nas
áreas que conhecemos, mas também em campos de conhecimento adjacentes e ainda mais
remotos, porque o método, em última análise, é universal.
É melhor ler um livro e lê-lo
bem; é melhor dominar um pouco de cada vez e dominá-lo completamente. Somente
assim seus poderes de compreensão mental se expandirão naturalmente. O
pensamento gradualmente ganhará confiança em si mesmo e se tornará mais
produtivo. Com essas preliminares em mente, não será difícil distribuir
racionalmente seu tempo; e então, a transição de uma busca para outra será até
certo ponto prazerosa.
Com saudações camaradas,
L. Trotsky
29 de maio de 1923
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[1] Do Pravda, 31 de maio de 1923. Traduzido de Collected Works, Vol. 21, por Marilyn Vogt. From: Problems of Every Day Life, de Leon Trotsky. Tradução nossa do texto em inglês disponível em: http://marxiststudent.com/trotskys-advice-to-young-marxists-dont-spread-yourself-too-thin/
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