Planos para a organização do negro - Leon Trotsky



Leon Trotsky


O presente texto, tratando da questão da organização revolucionária do negro norte-americano, é um dos inúmeros textos de Leon Trotsky sobre o problema. Trata-se da transcrição de uma discussão entre o dirigente da Revolução Russa de 1917 e militantes do Socialist Worker's Party (Partido Operário Socialista) dos Estados Unidos, entre eles o famoso militante negro e escritor jamaicano radicado na Inglaterra C. R. L. James. A reunião que transcrevemos aqui foi realizada na casa onde o revolucionário exilado residiu no período que antecedeu o seu assassinato em Coyacán, no México, em 11 de Abril de 1939




C. L. R. James: As sugestões para o trabalho do partido estão nos documentos e não é preciso repassá-las. Proponho que eles sejam considerados pelo Comitê Político do SWP imediatamente, junto com a ideia do camarada Trotsky de tirar um número especial da New International sobre a questão do negro. O que é urgentemente necessário é um panfleto escrito por alguém familiarizado com as mazelas Partido Comunista sobre a questão do negro e relacioná-los à Internacional Comunista e à sua degeneração. Seria um trabalho teórico preliminar à organização do movimento negro e ao próprio trabalho do partido entre os negros. Não era necessário, porém, um panfleto genérico sobre as dificuldades dos negros, ressaltando a união entre negros e brancos. Seria apenas um dos assuntos de uma longa lista.

A Organização do Negro:

Teórico:

1. Um estudo sobre a história do negro e da propaganda deveria ser:
a) A emancipação dos negros em San Domingo ligada à revolução francesa.
b) A emancipação dos escravos no Império Britânico com a British Reform Bill de 1832.
c) A emancipação dos negros nos Estados Unidos ligada à Guerra Civil norte-americana.
Estes pontos demandam facilmente a conclusão de que a emancipação do negro nos Estados Unidos e em outros países está ligada à luta de classe dos trabalhadores brancos.
d) As origens econômicas da discriminação racial.
e) O fascismo.
f) A necessidade da autodeterminação dos povos negros na África e uma política similar na China, na Índia, etc.
N. B.: O partido deverá elaborar um estudo teórico sobre a revolução permanente e os povos negros. Deverá ser bem diferente em estilo do panfleto previamente sugerido. Não deverá ser uma controvérsia com o CP, mas uma análise econômica e social positiva mostrando que o socialismo é a única saída e, definitivamente, tratar a teoria em um nível elevado. Isto, entretanto, deverá partir do próprio partido.

2. Um análise escrupulosa e uma exposição sobre a situação dos negros mais pobres e a forma como isso atrasa não apenas os negros, mas toda a comunidade. É da maior importância que os próprios negros formulem um demonstrativo das suas condições, utilizando-se de diagramas, mapas, ilustrações, gráficos, etc.

Teoria: meios de organização:

1. Jornal semanal e panfletos da Organização do Negro.
2. Estabelecer o International African Opinion como um jornal mensal teórico, financiado, em certa medida, desde a América; dobrar o seu tamanho atual depois de alguns meses, entrando firmemente em uma discussão sobre o socialismo internacional, enfatizando o direito da autodeterminação, cuidando em mostrar que o socialismo é a decisão sobre o estado dos próprios negros, sobre a base da sua própria experiência. Convidar todas as organizações internacionais do movimento operário, intelectuais negros, etc. para participar. É desejável que o camarada Trotski participe. A discussão sobre o socialismo não toma parte do jornal de agitação semanal.

Organizativo:

1. Trazer um pequeno grupo de negros e brancos se for possível: Quarta-internacionalistas, Lovestonistas , revolucionário não-organizados - este grupo deve estar esclarecido sobre a) a questão da guerra e b) o socialismo. Não podemos começar por colocar uma questão abstrata como o socialismo antes dos trabalhadores negros. Parece-me que não podemos nos dar ao luxo ter confusa esta questão entre a liderança; portanto, é sobre esta questão que pende toda a direção da nossa política cotidiana. Estamos indo em direção a um acordo com o capitalismo ou para romper com ele? Sobre a questão da guerra não poderá haver acordo. O Bureau tem uma posição e esta deve ser a base da nova organização.

Programa:

1. Uma cuidadosa adaptação do programa de transição com ênfase na questão da igualdade. Isto deve ser dito, tanto quanto possível, no presente.

Passos práticos:

1. Escolher, após uma cuidadosa investigação, alguns sindicatos onde haja discriminação sobre um grande número de negros e onde haja a possibilidade de sucesso. Mobilizar uma campanha nacional com todos os meios conciliáveis de frentes unidas: AFL, CIO, SWP, SP, igrejas de negros, organizações burguesas e todos que queiram acabar com a discriminação. Esta deve ser a primeira campanha, para mostrar claramente que a organização está lutando como uma organização negra e que não em nada a ver com o Garveysmo.

2. Procurar construir uma ampla organização nacional sobre o problema da moradia e das baixas rendas dos negros, colocando a mulher dentro de uma ação militante.

3. A discriminação em restaurantes deve ser combatida com uma campanha. Um número de negros em qualquer área deverá ir a um determinado restaurante, pedir café, e recusar-se a sair antes de ser servido. Será possível que fique lá sentado o dia inteiro, mas de uma maneira ordeira e jogar sobre a polícia a necessidade de remover esse negros. A campanha deve ser construída sobre a base de tais ações.

4. A questão da organização de servidores domésticos é muito importante e ainda bastante difícil onde uma profunda investigação deveria ser feita.

5. Desemprego dos negros: sobre esta questão deveria ser tomado um grande cuidado para não dividir a organização; e este é provavelmente o papel do partido.

6. A organização dos negros deve tomar a organização dos arrendatários rurais no sul como sua própria. Isto deve ser feito sobre a base da solução da questão do negro no sul; popularizar o seu trabalho, seus aclamos, suas possibilidades no este e no oeste; tentar influenciá-la para uma direção mais militante; convidar seus oradores; é urgente uma ação contra os linchamentos; e fazer toda a comunidade e os brancos cuidarem de sua importância na luta nacional e regional.

Orientação política:

1. Iniciar uma luta militante contra o fascismo e ver como aqueles negros estão sempre na frente de batalha de qualquer demonstração ou atividade contra o fascismo.

2. Inculcar a impossibilidade de qualquer assistência ser obtida dos partidos Republicano e Democrata. Os negros devem lançar seus próprios candidatos em um programa da classe operária e formar uma frente unida apenas com aqueles candidatos cujos programas se aproximem dos seus.

Organização interna:

As uniões locais devem voltar-se para questões que estejam de acordo com a emergência da situação local e as companhas nacionais planejadas para tanto. Estas podem ser decididas por uma investigação.
a) Começar com uma campanha em larga escala para a aquisição de fundos para lançar e manter um jornal e, ao menos, duas sedes: uma em Nova Iorque e outra em alguma cidade como Saint Louis, pouco distante do sul.
b) Um semanário de agitação ao preço de dois centavos, o exemplar.
c) A determinação deverá ser, tão cedo quanto possível, ter cinco militantes profissionais: dois em Nova Iorque, dois em St. Louis (?), e um constantemente viajando de um para outro centro. Uma excursão nacional, após o jornal ter-se firmado e um esboço de programa e reivindicações estabelecidos. Uma conferência nacional no próximo verão.
d) Procurar obter um militante negro da África do Sul para viajar por aqui, o mais cedo possível. Há poucas dúvidas de que isso possa ser facilmente arranjado.
Os membros do partido na organização deverão formar uma fração, e todos os documentos importantes submetidos pela fração à organização dos negros devem ser ratificados tanto pelo Comitê Político, quanto pelos seus representantes designados.

Curtiss: Sobre abrir a discussão sobre o socialismo no boletim [o proposto jornal teórico], mas exluindo-a, ao menos por um tempo, do semanário: parece-me que isto é perigoso. Cai na idéia de que o socialismo é para intelectuais e para a elite, mas que o povo de baixo deve estar interessado apenas nas coisas vulgares, nas coisas do dia-a-dia. O método deve ser diferente em dois aspectos, mas, acredito que deveria ao menos ser uma guinada em direção ao socialismo no semanário não apenas a partir do ponto de vista das tarefas cotidianas mas também no quê chamamos de discussão abstrata. É uma contradição - um jornal de massas deveria tomar uma posição clara sobre a questão da guerra, mas não sobre o socialismo. É impossível fazer o primeiro sem fazer o segundo. É uma forma de economismo [que] os trabalhadores deveriam estar interessados nas questões cotidianas, e não em teorias socialistas.

James: Eu vejo as dificuldades e as contradições, mas há algo mais que eu não posso deixar de perceber: se queremos construir um movimento de massas não podemos mergulhar em uma discussão sobre o socialismo, pois eu creio que isto poderia causar mais confusão do que trazer algum ganho. O negro não está interessado em socialismo. Ele pode ser levado ao socialismo sobre a base da sua experiência concreta. De outra forma nós teríamos que formar uma organização socialista de negros. Eu acredito que devamos apresentar um programa mínimo, concreto. Concordo que não devamos deixar o socialismo muito distante no futuro, mas estou tentando evitar longa discussão sobre o marxismo, a Segunda Internacional, a Terceira Internacional, etc.

Lankin: Poderia esta organização abrir as suas portas a todas as classes de negros?

James: Sim, sobre a base de seu programa. Os negros burgueses podem entrar para ajudar, mas apenas sobre a base do programa da organização.

Lankin: Não vejo como a burguesia negra pode ajudar o proletariado negro a lutar pela melhoria da situação econômica deste.

James: Em nosso movimento alguns de nós são um tanto burgueses. Se um negro burguês é excluído de uma universidade devido à sua cor, esta organização deverá, provavelmente, lutar pelos direitos do estudante burguês negro.

Trotski: Acredito que a primeira questão seja a atitude do Socialist Workers Party entre os negros. É muito inquietante descobrir que até agora o partido não tem feito praticamente nada neste terreno. Não foi publicado sequer um livro, um panfleto, folhetos, mesmo um único artigo na New International. Dois companheiros que compilaram um livro sobre a questão, um trabalho sério, ficaram isolados. Aquele livro não foi publicado, nem se estima quando o será. Não é um bom sinal. É um mal sinal. O peculiar sobre os partidos americanos de trabalhadores, organizações sindicais, etc., é a sua característica aristocrática. Isto é a base do oportunismo. Os trabalhadores qualificados que se sentem estabelecidos na sociedade capitalista ajudam a classe burguesa a dominar os negros e os trabalhadores desqualificar em um patamar muito baixo. Nosso partido não está a salvo desta degeneração se ele continuar sendo um lugar de intelectuais, semi-intelectuais, trabalhadores qualificado, e trabalhadores judeus que constróem um meio muito fechado o qual está quase isolado das massas genuínas. Sob estas condições nosso partido não pode desenvolver - degenerar-se-á.
Devemos colocar este grande perigo diante dos seus olhos. Muitas vezes propus que todos os membros do partido, especialmente os intelectuais e semi-intelectuais, que, durante um período de, talvez, seis meses, não tenha conseguido ganhar um trabalhador para o partido deveria ser rebaixado à categoria de simpatizante. Podemos dizer o mesmo na questão do negro. As velhas organizações, a começar pela AFL, são as organizações da aristocracia trabalhista. Nosso partido é parte do mesmo meio, não da base explorada das massas, onde se encontram a maioria dos negros explorados. O fato de que o nosso partido até agora não tenha voltado à questão do negro é um sintoma muito inquietante. Se a aristocracia dos trabalhadores é a base do oportunismo, uma das fontes de adaptação à sociedade capitalista, então o mais oprimido e discriminado é o mais dinâmico meio da classe trabalhadora.
Nós devemos dizer aos elementos conscientes dos negros que eles estão convocados pelo desenvolvimento histórico para se tornar a vanguarda da classe trabalhadora. O que funciona como freio para as camadas mais elevadas? São os privilégios, a comodidade que as impedem de se tornarem revolucionárias. Isto não existe para os negros. O que pode transformar um determinado estrato social, torná-lo mais imbuído de coragem e sacrifício? Encontra-se concentrado entre os negros. Se acontece de nós do SWP não estarmos aptos a encontrar o caminho para este estrato, então nós não somos capazes de nada. A Revolução Permanente e todo o resto seriam apenas uma mentira.
Nos Estados Unidos temos agora vários competições. Uma competição para ver quem vende mais jornais e assim por diante. Isso é muito bom. Mas devemos também estabelecer uma competição mais séria: o recrutamento de trabalhadores e especialmente de negros trabalhadores. Em um certo grau que seja independente a criação da organização do negro em especial.
Eu acredito que o partido deva utilizar o estada do companheiro James nos Estados Unidos (a viagem seria necessária para familiarizá-lo em condições) mas agora, pelos próximos seis meses, por um trabalho político e organizacional [clandestino?] com o objetivo de atrair muito mais atenção das autoridades. Um programa de seis meses pode ser elaborado para a questão do negro, e então se o James for obrigado a voltar à Grã-Bretanha, por razões pessoais ou devido à pressão da polícia, após meio ano de trabalho nós teremos a base de um movimento negro e um núcleo sério de negros e brancos trabalhando juntos neste plano. É uma questão vital para o partido. É uma questão importante. É uma questão de se o partido está para se transformar em uma seita ou se é capaz de encontrar seu caminho até a porção mais oprimida da classe trabalhadora.

* * *

Proposta tomadas, ponto por ponto

1. Panfleto sobre a questão negra e sobre os negros no PC, relacionando-o com a degeneração do Crêmlin.

Trotski: Bom. E por que não mimeografar este volume, ou partes dele, e enviá-los juntamente com outros materiais para as várias sessões do partido para discussão?

2. Uma edição sobre o negro da New International.

Trotski: Eu acredito que seja absolutamente necessária.

Owen: Parece-me ser perigoso tirar um número sobre o negro antes de termos uma organização suficientemente negra para assumir a sua distribuição.

James: Não deve ser pretendida primeiramente para os negros, mas para o partido e outros leitores da revista teórica.

3. A utilização de um história dos negros para a sua educação.

Acordo geral.

4. Um estudo da revolução permanente a questão negra.
Acordo geral.

5. A questão do socialismo - se introduzi-la através do jornal ou do boletim (o jornal teórico proposto).

Trotski: Não acredito que possamos começar com a exclusão do socialismo da organização. Você está propondo uma organização muito ampla, um tanto heterogênea, que aceitaria, também pessoas religiosas. Isto significaria que se um operário negro, um camponês ou comerciante negro fizer um discurso na organização no sentido de que a única salvação dos negros é a igreja, seremos tolerantes demais para expulsá-lo e, ao mesmo tempo, tão sábios que não o deixaremos discursar em favor da religião, mas não discursaremos em favor do socialismo. Se entendemos o caráter deste meio, adaptaremos a apresentação das nossas idéias a ele. Seremos cautelosos; mas amarrar nossas mãos de antemão - dizer que não introduziremos a questão do socialismo porque é um assunto abstracto - isto não é possível. Uma coisa é apresentar um programa socialista geral e outra estar atento para para as questões concretas da vida do negro e opor o socialismo ao capitalismo nestas questões. Uma coisa é aceitar um grupo heterogêneo e trabalhar nele e outra é ser absorvido por ele.

James: Concordo com o que você diz. Meu receio é a apresentação de um socialismo abstrato. Você há de lembrar-se que eu disse que o grupo dirigente deve entender claramente o que está fazendo e aonde está indo. Mas a educação socialista das massas deveria surgir das questões do dia-a-dia. Estou apenas ansioso para prevenir a coisa de se desenvolver no sentido de uma discussão interminável. A discussão deve ser livre e exaustiva no órgão teórico.
Em relação à questão do socialismo no órgão de agitação, é meu ponto de vista que a organização deveria estabelecer-se definitivamente realizando o trabalho quotidiano dos negros em tal forma que as massas negras possam tomar parte nele antes de se envolver em discussões a respeito do socialismo. Ao mesmo tempo em que está claro que um indivíduo possa levantar quaisquer problemas, ainda assim o problema é se aqueles que estão dirigindo a organização como um todo deveriam começar falando em nome do socialismo. Penso que não. É importante lembrar que aqueles que assumem a iniciativa deveriam ter um acordo comum sobre os fundamentos da política de hoje, ao contrário haverá um enorme problema à medida em que a organização se desenvolva. Mas, ainda que estes, como indivíduos, têm o direito de expressar seu ponto de vista particular na discussão geral, ainda assim a questão é se eles falariam como um corpo de socialistas desde o primeiro momento, e a minha opinião pessoal é que não.

Trotski: No órgão teórico você tem uma discussão teórica e no órgão de massas você pode ter uma discussão política de massas. Você diz que eles estão contaminados pela propaganda capitalista. Diga-lhes: "vocês não acreditam no socialismo. Mas vocês verão que na luta, os membros da IV Internacional não apenas estarão com vocês, mas serão possivelmente os mais combativos". Eu iria até mesmo ao ponto de fazer com que cada um dos nossos oradores terminassem seus discursos dizendo "meu nome é IV Internacional". Eles acabarão por ver que somos combatentes, enquanto que a pessoa que prega a religião no corredor, no momento crítico irá para a igreja ao invés do campo de batalha.

6. Os grupos organizadores e indivíduos da nova organização devem estar em completo acordo sobre a questão da guerra.

Trotski: Sim, é a questão mais importante e mais difícil. O programa deve ser bem modesto, mas ao mesmo tempo deve deixar a cada um a liberdade de expressão em seus discursos e assim por diante; o programa não deve ser um elemento de limitação da nossa atividade, mas apenas nossa obrigação comum. Todos devem ter o direito de ir além, mas todos estão obrigados a defender o mínimo. Veremos como este mínimo será cristalizado à medida em que avancemos nos primeiros passos.

7. Uma campanha em alguma indústria em defesa dos negros.

Trotski: Isto é importante. Trará um conflito com alguns trabalhadores brancos que não vão querê-lo. É uma mudança dos elementos operários mais aristocráticos para os elementos mais baixos. Nós atraímos para nós alguns da mais alta camada dos intelectuais quando eles sentiram que precisam de proteção: Dewwy, La Follete etc. Agora que estamos realizando um trabalho sério, eles nos estão deixando. Eu acredito que perderemos duas ou três camadas mais e iremos mais a fundo nas massas. Esta será a pedra de toque.

8. Campanha de habitação e aluguéis.

Trotski: É absolutamente necessária.

Curtiss: Funciona bem também com as nossas reivindicações transitórias.

9. a demonstração no restaurante.

Trotski: Sim, e vamos dar a ela um caráter ainda mais combativo. Poderia haver um piquete do lado de fora para atrair atenção e explicar alguma coisa sobre o que está acontecendo.

10. Empregados domésticos.

Trotski: Sim, acredito que seja muito importante; mas creio que há a consideração a priori de que muitos destes empregados negros trabalham para pessoas ricas, estão desmoralizados
e transformaram-se em lacaios morais. Mas há os outros, uma camada mais ampla, e questão é ganhar o que não são tão privilegiados.

Owen: Este é um ponto que quero apresentar. Alguns anos atrás eu estava vivendo em Los Angeles próximo a uma seção negra - separada das outras. Os negros ali eram mais prósperos. Inquiria respeito do seu trabalho e me disseram os próprios negros que estavam vivendo melhor porque eram criados - muitos nas causas da colônia do cinema. Fiquei surpreso em descobrir que os criados estavam em uma camada superior. Esta colônia de negros não era pequena de vários milhares de pessoas.

James: é verdade. Mas se você é sério não é difícil de chegar até as massas negras. Eles vivem juntos e sentem juntos. Esta camada de negros privilegiados é menor que qualquer outra camada de privilegiados. Os brancos os tratam com tal desprezo que apesar deles mesmos estão mais próximos de outros negros do que se poderia pensar. Nas Índias Ocidentais, por exemplo, há grandes divisões entre os negros - certas classes de negros não se confraternizam com outras. Mas isto não é verdadeiro aqui. Aqui eles são mantidos em um gueto.

11. Mobilizar os negros contra o fascismo.

Acordo geral.

12. O relacionamento dos negros com os partidos democrático e republicano.

Trotski: quantos negros há no congresso? Um. Há 440 membros na Casa de Representantes e 96 no Senado. Então se os negros têm quase 10% da população, eles têm direito a 50 membros, mas têm apenas um. É um quadro claro de desigualdade política. Podemos frequentemente opor um candidato negro a um candidato branco. Esta organização negra deve dizer sempre: "queremos um negro que conheça nos nossos problemas." Pode ter conseqüência importantes.

Owen: Parece-me que o camarada James ignorou uma parte importante do nosso programa, a parte trabalhista.

James: A seção negra quer lançar um candidato negro. Nós lhe dizemos que eles não devem se apresentar apenas como negros, mas que eles devem ter um programa adequado para as massas de negros pobres, Eles não são estúpidos e podem compreendê-lo e isto deve ser estimulado. Os operários brancos lançarão um candidato operário em outra seção. Então, dizemos aos negros na seção branca: "apóiem aquele candidato, porque suas reivindicações são boas reivindicações operárias. E dizemos para os trabalhadores brancos na seção negra: " vocês devem apoiar o candidato negro, porque ainda que ele seja negro vocês perceberão que suas reivindicações são boas para a classe trabalhadora como um todo." Isto que dizer que os negros têm a satisfação de ter seu próprio candidato em áreas onde eles predominam e ao mesmo tempo construirmos a solidariedade operárias. Isto de adequa ao programa do partido de trabalhadores.

Curtiss: Não é chegar perto da Frente Popular, votar por um negro apenas porque ele é negro?

James: Esta organização tem um programa. Quando os democratas apresentem um candidato negro, diremos: "de modo algum. Deve ser um candidato com um programa que possamos apoiar".

Trotski: É uma questão de uma outra organização pela qual não somos responsáveis., do mesmo modo como eles não são responsáveis por nós. Se esta organização apresenta um certo candidato, e concluímos como partido que devemos apresentar o nosso próprio candidato em oposição, temos todo o direito de fazê-lo. Se somos fracasso e não podemos conseguir que a organização escolha um revolucionário e eles escolhem um negro democrata, podemos até mesmo retirar nosso candidato com um declaração concreta de que nos abstemos de combater, não o democrata, mas o negro. Consideramos que a candidatura negra como oposta à candidatura branca, mesmo que ambas sejam do mesmo partido, é um fator importante na luta dos negros pela sua igualdade; e neste caso podemos apoia-los criticamente. Acredito que possa ser feito em alguns casos.

13. Um negro da África do Sul ou da África Ocidental para fazer uma turnês pelos EUA.

Trotski: O que ele vai ensinar?

James: Tenho em mente diversos jovens negros, qualquer pessoa de quem eu possa dar um quadro claro contra a guerra e antiimperialista. Penso que seria importante na construção da compreensão do internacionalismo.

14. Submeter documentos e planos para o Comitê Político.
Acordo geral.

James: Concordo com a sua atitude a respeito do trabalho do partido em conexão com os negros. São uma tremenda força e dominarão todos os estados do Sul. Se o partido consegue estabelecer uma posição ali, a revolução está ganha na América. Nada poderá detê-la.



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